Oi! Eu sou a Ketryn

Sou uma ex-quase-jornalista que virou animadora e que o TDAH transformou em Artista Multidisciplinar.

Experimento todo tipo de arte mas, no fim das contas, o objetivo é sempre o mesmo:  contar uma história, seja ela escrita ou visual.

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O que teu abismo te devolve?

“Ser livre é, frequentemente, ser só”.
Essa frase sempre me atravessa de um jeito estranho. Sinto uma inquietude cortante quando penso que, por eu ser alguém que não consegue processar monotonia, talvez eu esteja fadada a sempre me sentir só, mesmo quando acompanhada. Por ser alguém que tem mudança como uma zona de conforto, precisei aprender a abraçar e acolher esse sentimento de solidão que me toma a cada novo ciclo.

Ser livre é ser só. Essa solidão me atravessa, mas não por ser um sentimento de tristeza, de desamparo ou dor. Ela me atravessa porque conquistar a liberdade é assumir a responsabilidade pelos próprios desejos e esse é processo é solitário, mesmo quando temos pra quem pedir colo. É um caminho que precisa ser feito só, mesmo quando temos alguém pra dar a mão e oferecer um abraço.

Porque cada desejo realizado implica uma perda, cada perda implica um luto, e em cada luto somos forçados a olhar com atenção pra dentro do abismo que carregamos em nós mesmos e esse abismo nos encara de volta.
O que teu abismo te devolve?

Meus lutos me ensinaram quando deixar ir. Meus lutos me ensinaram a perder o medo de mergulhar no meu abismo interno quando ele me encara, e a tomar cuidado pra não me perder nele depois de mergulhar. Meus lutos me ensinaram a não economizar desejos, nem afetos, nem palavras. A ser sempre muito, sentir muito, falar muito, querer muito e ainda mais.
A não me demorar em lugares e pessoas que não me cabem, não me compreendem ou acolhem. A não deixar a vida endurecer meu coração mole. A entender que se algo precisa ser forçado ou faz eu me sentir inadequada ou insuficiente, provavelmente não é pra ser meu ou estar comigo.

Ser só. Por dentro, sou o O Eremita que caminha com a lâmpada na mão, contemplativo sobre as coisas que aprende a cada nova viagem. Por fora, O Louco que corre saltitante em direção a um mundo novo, abraçando o desconhecido com toda alegria do seu coração de criança. Como o Louco, às vezes não vejo o perigo que me espera logo à frente. Como o Eremita, às vezes me perco em meus pensamentos.

Tentando achar o equilíbrio entre os lutos e os recomeços, às vezes sento à beira desse meu abismo interno. Minhas pernas balançam enquanto observo a paisagem lá embaixo. Medito um pouco sobre as coisas que me atravessam, reflito se é hora de pular mais uma vez ou seguir viagem em terra firme. O que meu abismo me devolve?

Mas, hoje, enquanto eu permanecia sentada à margem de mim, alguém sentou ao meu lado. Me ofereceu um ombro, me abraçou apertado, balançou as pernas comigo e reparou em detalhes da paisagem que eu costumo esquecer que existem.
Ser livre é, frequentemente, ser só. Frequentemente, não sempre. E que bom que posso contar com companhia mesmo na minha solidão.