Quando eu quis voar, eles disseram:
– vai, voa o mais alto que puder, mas não esquece que tens pra onde voltar.
Das vezes que eu senti o mundo desabar na minha cabeça, eles me lembraram:
– tu vais dar conta, isso vai passar. Nada dura pra sempre, tu já viste coisas piores e a gente vai rir disso no futuro
Quando eu quis chorar, eles choraram comigo. Depois respiraram fundo, olharam bem dentro dos meus olhinhos encharcados e me fizeram entender que eu nunca vou precisar estancar minhas lágrimas pra dizer que sou forte. A gente precisa de uma força monstruosa pra se mostrar vulnerável também.
Quando eu achei que estava perdida, eles acreditaram que eu acharia meu caminho. Mesmo que não soubessem bem que caminho era esse, mesmo que pra eles a mudança de rumo não fizesse muito sentido.
Quando o mundo pareceu um lugar duro demais, cruel demais, confuso demais pra viver, eles foram abrigo. E me ensinaram a ver que as pequenas gentilezas, os pequenos gestos de afeto, falam muito mais que os grandes discursos. E que mesmo que o mundo seja, sim, um lugar cruel, duro e confuso, ainda vale manter viva a esperança de dias melhores.
E é por causa disso que eu sigo voando, indo e voltando. Porque eles entendem minhas constantes mudanças de rumo, minha necessidade de inquietude, minha pouca habilidade para medir distâncias. Porque descobri que nunca estarei completamente perdida enquanto souber o caminho de casa.