Me senti revivendo 2018 nos últimos dias, mas não da forma alegre que eu esperava.
Em 2018 eu chegava a Portugal com uma mala de mão e uma mala com 23kg de cacarecos que julguei essenciais pra recomeçar a vida a 8mil km de distância do mundo que eu conhecia. Antes de mudar pra cá eu não tinha nem passaporte, viajar longas distâncias e conhecer outros países parecia uma realidade muito distante da minha.
Ser imigrante é uma das coisas mais bonitas e difíceis que eu já escolhi fazer na vida. Vivi uma montanha russa constante. Em alguns momentos estive no alto, vendo tudo que tinha aprendido, em outros me senti completamente desnorteada.
Esse último fim de semana me senti revivendo 2018, mas não pela sensação de vida nova, e sim pela de retrocesso. Uma sensação de revolta e angustia me tomou como em 2018. Acordei na manhã do meu aniversário sabendo que um milhão de portugueses não me quer aqui. Mais de um milhão de pessoas votaram num partido de extrema direita porque acreditam que imigrantes não tem o direito de viver no país “deles”.
Curiosamente, essas mesmas pessoas consideram benéfica toda a destruição causada pelos seus antepassados “descobridores” aos povos originários da Africa, América, etc. Ou seja, se a imigração for exploratória, com objetivo de enriquecer meia dúzia de famílias do seu país de origem destruindo esse novo lugar e dizimando os povos locais, tudo bem. Se o imigrante tiver como objetivo só viver a própria vida e colaborar com a sociedade em que ele escolheu viver, não tá tudo bem. Qual o sentido?
No dia 8 de março falei que, como mulheres, precisamos não só lutar pela conquista de novos direitos, mas também pela manutenção dos que foram conquistados. Hoje, como mulher imigrante latino-americana, o que falei no dia 8 de março só se fortalece. Somos resistência.
“As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas” – Marielle Franco
Porto, março de 2024.