Escrevo cartas sabendo que nunca vou mandar. Acho que mantenho esse costume desde que tinha uns 12 ou 13 anos, mas não me lembro bem como ou porque isso começou.

Não são cartas complexas, poéticas ou bem escritas. Nunca foram. Eram apenas um amontoado de pensamentos e sentimentos que, não tendo mais espaço na minha mente e peito que transbordavam, iam morar em papel.

Escrevi aos amores platônicos, às amizades perdidas, aos antepassados mortos, às pessoas que amo e àquelas que me magoaram, ao meu eu do passado e a versões de mim que nunca existiram ou poderiam existir. Cartas e mais cartas que acabaram queimadas, rasgadas ou perdidas em cadernos antigos sem nunca encontrar o destinatário.

Empilhei palavras nunca ditas ao longo de mais de duas décadas. Mais de vinte anos e eu continuo aqui, acumulando e empilhando essas cartas que não paro de escrever e que nunca vou enviar.