Eu sou muitas

Esse ano parece que vivo dez meses em um, todos os meses.

Deixei cair muitos pratinhos que não consegui equilibrar, quebrei alguns no caminho. Tenho vivido imersa em mim mesma, conhecendo milhares de novas versões de mim, reencontrando versões antigas que andavam esquecidas no tempo e deixando pra trás algumas que não fazem mais sentido nesse processo de grandes mudanças.

Não tenho dúvida nenhuma que esse ano Iansã e Iemanja estão de mãos dadas cuidando do meu ori. Iansã me arrastou pra fora da minha zona de conforto com seus furacões e tempestades. Me ensina todo dia que dá pra ser borboleta e se deixar levar pelo vento mesmo depois de um vendaval carregar nossas certezas e mudar tudo de lugar. Iemanjá me mostra que mesmo a força incontrolável e destruidora do mar tem seus dias de calmaria e que, se a gente olhar com atenção, vai ver que essa mesma força devastadora carrega dentro de si todas as cores e formas de vida imagináveis.

Sempre fui água: fluida, adaptável. Cabia em um copo d'água quando preciso, mas também sabia me espalhar se tivesse espaço. Já assumi muitas formas, mas agora tô aprendendo a ser mar, que na tempestade toma pra si os espaços que julga serem seus por direito.

Tô aprendendo que eu não preciso ser uma só. Eu sou muitas. Todas as que já fui e ainda vou ser um dia. Tô aprendendo a ver que sou vento, raios e mar: uma força avassaladora e irreparável, mas que também pode ser leve e delicada quando quer.

Epahei⚡️

Odoyá 🌊

Porto, setembro de 2023.

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