Até mais, e obrigada pelos peixes! - minha experiência na Piscine da 42 Porto

“Raramente chego ao destino pretendido, mas muitas vezes acabo em algum lugar em que precisava estar” (Douglas Adams em “A Longa e Sombria Hora do Chá da Alma”)

Foram 26 dias estudando programação todos os dias, sem sábados, domingos ou feriados de folga. Mais de 40h de estudo por semana. Sem aulas, sem professores.

26 dias.

Novos amigos e uma quantidade SURREAL de conhecimento adquirido em pouco tempo.

Entrei sem saber praticamente nada de programação, saí sabendo Unix Shell e Git, programando em C, entendendo ponteiros, strings, argc e argv, funcionamento de alocação de memória e tantas outras coisas.

Lembro que, antes da Piscine começar, o Lula Rodrigues me mandou uma mensagem dizendo “vai com calma, porque o processo é maravilhoso e horrível ao mesmo tempo”. Achei esquisito, mas foi assim mesmo. Era uma montanha-russa: em um momento eu sentia que era o Megamente com seu supercérebro, em outro achava que não sabia nada e nunca ia conseguir aprender. Em alguns dias eu me sentia tão exausta física e mentalmente que cheguei a duvidar da parte maravilhosa, mas hoje sou obrigada a concordar com meu amigo: o que a Piscine tem de caótica, tem de incrível. É uma experiência completamente diferente de qualquer coisa que já vivenciei. A gente reaprende a aprender, um ensina o outro enquanto ainda está assimilando o conteúdo, num espírito de coletividade, compartilhamento e colaboração que vi poucas vezes na vida.

A Piscine exige DEMAIS da gente. MESMO. E para pessoas neurodivergentes ou ansiosas como eu, é um desafio ainda maior. São muitos estímulos o tempo todo, picos de hiperatividade, muita oscilação de atenção e aquela sensação quase constante de “não vou dar conta”.

Cheguei a comentar com minha psicóloga que sentia como se lidasse com um processo de luto (luto não acontece só quando alguém morre, mas também quando outros ciclos da vida se encerram). Minha rotina tranquila e super flexível tinha deixado de existir, minha forma de assimilar conhecimento não funcionava naquele contexto e eu precisava aceitar que ia falhar MUITO em boa parte do processo. Tentei negar que minha rotina mudaria tanto e de forma tão brusca, senti raiva de mim por não conseguir entender algumas coisas tão rápido quanto os colegas, fiquei triste por sentir raiva, tive crises de ansiedade, tentei barganhar comigo mesma até, finalmente, aceitar a mudança. E a parte mais irônica disso tudo é que eu sou uma pessoa que tem a mudança como zona de conforto (!!!). Mesmo assim, passei um bom tempo insistindo em só molhar os pezinhos ao invés de mergulhar de vez na piscina que tinha à frente.

O fato é que, no meio do caos, não escondi o que sentia. Falei sobre ter TDAH, sobre ansiedade, sobre entrar em pânico, sobre tentar achar equilíbrio. E me surpreendi com o acolhimento e cuidado dos colegas e membros do staff.

No fim das contas, tudo serviu para que eu entendesse que tá tudo bem não estar bem o tempo todo. Evolução não é algo linear: ela é cíclica, oscila. Posso evoluir em alguns aspectos enquanto me sinto mal em outros. Por exemplo: não muito tempo atrás, só o ato de sair de casa era uma novela pra mim. Já tive crises de pânico só de ter que sair pra ir ao mercado ou passear com o cão. Também entrava em pânico em transportes públicos, lugares lotados e outras situações em que me sentia “presa”, sem saída. Apesar disso, passei 26 dias saindo de casa feliz e conseguindo me sentir bem e segura dentro do metro lotado. Se isso não é evolução, eu não sei o que é 😂

Pode ser que eu não passe no processo seletivo, principalmente porque os exames foram meio complicados pra mim (ficamos "presos" na mesma questão até acertar a resposta, e só então o sistema libera a próxima). Mas tô tranquila com isso, porque a experiência já valeu a pena.

Eu sei que em algum momento a 42 vai fazer parte da minha trajetória, seja se eu for aprovada agora ou se repetir a Piscine no ano que vem, então nesse momento só quero mesmo agradecer.

Agradeço aos colegas Pisciners (em especial ao João Marinho.Te amo, amigo), porque perdi a conta das vezes que me lançaram bóias ou me buscaram num barquinho quando eu sentia que ia afogar. E agradeço também ao staff da 42 Porto por todo cuidado e atenção com a gente. Vocês são incríveis! Obrigada por tudo ♥

Porto, fevereiro de 2023

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